sem horas

A mudança de meridianos altera nosso ciclo menstrual. Olha… foi o que me disse a senhora. É por isso que viajo e o ciclo se altera – toda vez, vez toda. Ela disse, e tanto sentido fez.
A gente é muito sensível a isto: aos movimentos, aos amores, às luas. E como se cada corpo um cosmos fosse, um buraco negro em cada ventre.

A senhora disse mais. Disse que proximidades tem relação com cheiros. Invisíveis cheiros; nascentes ciclos. A gente exala. E em um jogo todo silencioso o que fala muito da atração nem é o salto alto nem o olho pintado. Nem a roupa bonita nem o capricho nas unhas. Maior que isso, mais potente, são os corpos a exalar. Invisivelmente. Sorrateiramente. Sabe…? Feito bicho. Sendo bicho.

 

A gente se distancia de natureza, mas natureza é a gente. Está aqui, bem aqui dentro, entre pele e alma e útero e pelos que se erguem em arrepio.

 

A gente é feita de ciclo como a gente é feita de caos. O instante oposto, o piscar de dedos e nisso outra vibração ser. Estar. Outra percepção. Outra necessidade. Outra. Uma, numa. O Universo em todas.

A senhora me disse, e elas sempre falam. Em avós em mães em lobas em mulheres. Há um grande caos instaurado e na gente o caos sempre retorna. Se ele dura muito ou pouco é tarefa também do nosso agarrar-se à dor. Desapegarmos ou não.

Outra senhora uma vez disse-me disto: que o sofrimento, o nu, o cru, dura alguns segundos. O resto é apego. Apego. Sabe? Não desvencilhar-se da dor. Não querer ou permitir ver coisa outra.

 

Meridianos, luas, ciclos. Estamos reaprendendo a olhar para um feminino distante e tão nosso. O quanto precisamos de tempo para equilibrar, para ouvirmos e falarmos sem sobreposição… sabe…? É tarefa do agora. Um agora mutável; um agora já outro.

Nenhum feminino maior que o masculino, como nenhum contrário. Uma dança.
Uma dança.
Dancemos.

 

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