Foram 4 vezes que chamei:
– Filho, vem tomar banho.
– Filho, vem tomar banho.
– Filho, vem tomar banho.
– Filho, vem tomar banho!
– Já vou, mãe, tô só terminando uma coisinha aqui.
A coisinha aqui pode mesmo durar horas. E se é assim, a medida do tempo é só a medida do meu cansaço ou da minha alegria; da minha paz ou do meu caos.
A medida do tempo dele – e das coisinhas que o englobam – é proporcional à hipotenusa do meu respirar. É. Mas, bem, eu não me recordo mais o que é hipotenusa. É. Minhas certezas vãs. Assim concluo inconclusivamente que o tempo é só uma medida de distração intervalada entre um querer e um fazer. Entre um querer e outro querer. Ou, ainda, entre um fazer e outro fazer.
O menino… o menino cresceu um tanto.
Por exemplo: ontem após o banho, enrolado na toalha no meu colo no pequenino banheiro da pequenina casa, o menino lançou-me pergunta direta:
– Mãe, mas quer dizer que tu também vai morrer?
– É, filho, eu também vou.
O tempo ali dilatou feito chiclete entre o asfalto e o sapato. Esticado ficou por horas.
– Eu não queria.
– Eu te entendo, filho, mas é assim. A gente não escolhe quando, e é assim com todo mundo. As coisas morrem, a gente morre, mas no fundo talvez a gente nasça e esteja em outras coisas e seres, seguindo seguindo…
– É. Eu também um dia vou morrer e nascer em outra coisa, né mamãe?
– É, filho.
O chiclete do tempo dilatou ainda mais e a gente ficou ali, abraçados na toalha felpuda.
Então… o tempo pode mesmo trazer muita amarra. Muito embrulho. E um amontoado de caos.
Mas a busca minha é que sigamos a ter tempo dilatado em abraços mais que em insistências. Em conversas mais do que em chamamentos bruscos para o banho
para o banho
para o banho
para o banhoooooooooo.
A gente dilata tempo onde quer, ou onde o coração manda.
E por nossos tempos serem distintos é que nosso relógio merece respiro e compreensão. Serenidade e não-pressa. Firmeza. Mas não afobamento.
Porque a gente morre, né filho? Porque a gente morre, e a gente merece viver em tempo.
Para ele
por ele
e pela gente, pela gente.
Porto Alegre, RS, 15 de julho de 2017.
Marcia
Admiro demais a tua maneira de tornar suave assuntos sérios e delicados. Parabéns!
Sandra
O tempo da crianças não tem pressa….beijocas nas bochechas…
Andreia Maria da Rosa
O seu trabalho é lindo demais. Te vi numa apresentação na cidade de taquara colégio Theóphilo Sauer. Pena que foi curta mas foi muito linda. Sem falar em suas miniaturas guria vc é uma artista mesmo…